Greve em vésperas de Natal <br>contra destruição dos CTT

RES­POSTA Pe­rante a ameaça de três cen­tenas de des­pe­di­mentos en­ca­po­tados e sem me­didas que travem a de­gra­dação do ser­viço pú­blico, foi an­te­ontem anun­ciada greve nos CTT para dias 21 e 22.

O ser­viço de­gradou-se mas os ac­ci­o­nistas re­ce­beram 240 mi­lhões

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Com­bater a des­truição dos CTT é o ob­jec­tivo prin­cipal da luta, des­ta­cado pelo Sin­di­cato Na­ci­onal dos Cor­reios e Te­le­co­mu­ni­ca­ções no co­mu­ni­cado que di­vulgou na terça-feira, dia 5, e também sa­li­en­tado em de­cla­ra­ções do Se­cre­tário-geral do SNTCT ao nosso jornal nessa tarde. Victor Nar­ciso lem­brou que esta greve se in­sere no com­bate pela re­versão da pri­va­ti­zação, apon­tada como a prin­cipal causa dos pro­blemas cada vez mais graves que afectam os tra­ba­lha­dores e os utentes dos Cor­reios.

Em vá­rios lo­cais de tra­balho, fre­quen­te­mente en­vol­vendo a po­pu­lação, têm ocor­rido de­mons­tra­ções de des­con­ten­ta­mento e ac­ções de luta. O sin­di­cato da Fec­trans/​CGTP-IN com­provou, nos con­tactos de pre­pa­ração da greve agora anun­ciada, que em geral as es­tru­turas re­pre­sen­ta­tivas de tra­ba­lha­dores con­testam o rumo dado à em­presa desde que foi de­fi­nido o ob­jec­tivo da pri­va­ti­zação, con­cluída pelo go­verno PSD/​CDS-PP em Se­tembro de 2014. Al­guns sin­di­catos já adi­an­taram que vão apelar à greve nos dias 21 e 22.

No co­mu­ni­cado, o SNTCT apela à greve para exigir: pres­tação do ser­viço uni­versal com qua­li­dade; tra­ba­lha­dores su­fi­ci­entes nas es­ta­ções de cor­reio, cen­tros de dis­tri­buição postal e de tra­ta­mento; in­te­gração dos con­tra­tados a prazo e dos «agen­ci­ados»; ad­missão de 300 tra­ba­lha­dores; me­lhoria das con­di­ções de tra­balho.

Por outro lado, a luta é tra­vada contra a de­te­ri­o­ração do ser­viço uni­versal de cor­reio, contra os des­pe­di­mentos en­ca­po­tados, contra o as­sédio moral e pro­fis­si­onal, contra a des­truição dos postos de tra­balho, contra a en­trega de es­ta­ções a ter­ceiros, contra a des­truição do pa­tri­mónio dos CTT, contra a gestão apenas a favor dos ac­ci­o­nistas, contra o tra­balho ex­tra­or­di­nário não pago, contra o abuso no pro­lon­ga­mento ilegal do ho­rário dos con­tra­tados a prazo.

 

A afundar pelos lu­cros

Um novo so­bres­salto quanto ao fu­turo dos tra­ba­lha­dores, da em­presa e do ser­viço pú­blico foi cau­sado pelas no­tí­cias que sur­giram de­pois de, a 31 de Ou­tubro, ser co­nhe­cido que os re­sul­tados dos CTT, no final do ter­ceiro tri­mestre, em­bora exibam um lucro su­pe­rior a 19 mi­lhões de euros, re­pre­sentam uma quebra de quase 58 por cento, face aos 46 mi­lhões re­gis­tados no mesmo pe­ríodo de 2016.

Logo a ad­mi­nis­tração co­mu­nicou que ia pôr em marcha uma «re­es­tru­tu­ração sig­ni­fi­ca­tiva dos custos», dei­xando saber que um pri­meiro passo seria a saída de 300 tra­ba­lha­dores, por via de «res­ci­sões ami­gá­veis» e re­formas an­te­ci­padas. Uma «fonte ofi­cial» que a re­vista Sá­bado ci­tava, a 15 de No­vembro, dizia que a em­presa ten­taria que tais si­tu­a­ções se re­flec­tissem menos em zonas do in­te­rior do País. De­pressa foi des­men­tida esta pre­o­cu­pação de «li­mitar os danos».

No dia 24 de No­vembro, di­ri­gentes do SNTCT e da União dos Sin­di­catos do Norte Alen­te­jano es­ti­veram à porta dos CTT em Ponte de Sor, dis­tri­buindo um co­mu­ni­cado a pro­testar contra o as­sédio pa­tronal so­frido por dois tra­ba­lha­dores, efec­tivos há mais de 20 anos, para que acei­tassem uma pro­posta «ami­gável» de res­cisão dos con­tratos.

Na­quele con­celho, ob­servou a USNA/​CGTP-IN, ao dar no­tícia da­quela acção, o cor­reio já não é dis­tri­buído di­a­ri­a­mente, à se­me­lhança do que su­cede por quase todo o dis­trito de Por­ta­legre.

Ques­ti­o­nando «ao ser­viço de quem» estão hoje os CTT, o sin­di­cato lançou a 15 de No­vembro um sério alerta quanto à si­tu­ação da em­presa, re­cla­mando que o Es­tado tome me­didas e re­a­fir­mando a exi­gência de re­versão da pri­va­ti­zação.

Cor­reio com atraso até 15 dias úteis, mais de uma hora em filas de es­pera nas es­ta­ções de cor­reio, re­gistos en­tre­gues com mais de cinco dias de atraso, tra­ba­lha­dores ex­te­nu­ados a re­cor­rerem cada vez mais a ajuda mé­dica por tra­ba­lharem dez e mais horas por dia no aten­di­mento e dis­tri­buição, cen­tenas de postos de tra­balho sem tra­ba­lha­dores, es­peras de uma a três se­manas para abrir uma conta no Banco CTT – com estas cores pin­tava o sin­di­cato o quadro da vida na em­presa.

O sin­di­cato es­tima que há cerca de 400 postos de tra­balho efec­tivos por pre­en­cher, na dis­tri­buição e no aten­di­mento, o que ex­plica os atrasos e as filas de es­pera. E sa­li­enta que «os tra­ba­lha­dores não aceitam que quem causou esta si­tu­ação con­tinue a ga­nhar mi­lhões, para des­truir uma em­presa com 500 anos de exis­tência».

Desde 2014, os CTT en­tre­garam aos ac­ci­o­nistas mais de 240 mi­lhões de euros de di­vi­dendos.

 

Re­verter a posse

Para sexta-feira, dia 15, está agen­dada a dis­cussão no ple­nário par­la­mentar do pro­jecto de re­so­lução do PCP que propõe re­co­mendar ao Go­verno «que inicie o pro­cesso de re­cu­pe­ração do con­trolo e gestão do ser­viço postal uni­versal por parte do Es­tado, através da re­versão da pri­va­ti­zação».
Ao di­vulgar aos tra­ba­lha­dores esta ini­ci­a­tiva, a cé­lula do PCP nos CTT (Lisboa) con­si­derou «pe­ri­gosa» uma re­so­lução sobre o mesmo tema, apre­sen­tada pelo BE (e que também vai a ple­nário dia 15, tal como a re­so­lução pro­posta pelo PEV). Pro­pondo que a AR re­co­mende ao Go­verno que «inicie o pro­cesso de re­cu­pe­ração do con­trolo e gestão do ser­viço postal uni­versal por parte do Es­tado», o BE de­fende que isso seja feito «através do res­gate da con­cessão do ser­viço pú­blico dos Cor­reios e da sua rede pú­blica aos CTT». Isto, como avi­sava a cé­lula co­mu­nista, «im­pli­caria a re­ti­rada aos CTT do ser­viço pú­blico postal» e «só le­varia água ao moinho da ad­mi­nis­tração, pe­na­li­zando os tra­ba­lha­dores, os utentes e a so­be­rania na­ci­onal».
Também Victor Nar­ciso ex­pressou an­te­ontem sé­rias pre­o­cu­pa­ções com este con­teúdo. O di­ri­gente deu-nos conta de que o sin­di­cato vai in­ten­si­ficar a re­colha de as­si­na­turas para a pe­tição que re­clama «re­versão da pri­va­ti­zação dos CTT Cor­reios de Por­tugal, vol­tando os mesmos à posse total e gestão di­recta do Es­tado por­tu­guês».

 



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